quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"História de Canções – Chico Buarque "

Wagner Homem

por Mirella Fonzar e Solange Fonzar, redação ONNE
Autor de “História de Canções – Chico Buarque”, 3º lugar dos mais vendidos, fala sobre o livro, política, Chico, “causos” e projetos futuros; Confira a entrevista exclusiva ao ONNE

Wagner Homem, autor do livro Histórias de Canções – Chico Buarque, nem parece estar ocupando os primeiros lugares nas listas dos livros mais vendidos de não ficção dos principais jornais e revistas do país. Acessível e simpático, o autor nos encontrou no Conjunto Nacional, em São Paulo, para uma conversa agradável de final de tarde. Durante a entrevista, atendeu um telefonema da editora com a notícia que estava em 3º lugar na lista da revista Veja dos mais vendidos da semana. Disse que não esperava, pediu licença para ligar pra casa e contar a novidade. Tranquilo, sorridente e cheio de histórias para contar, Homem passou algumas horas conosco falando sobre o livro, política, “causos” e projetos futuros. Nem ele percebeu, mas a mesa ao lado comia em silêncio para ouvir o que ele dizia. Saímos de lá com gosto de quero mais, e entendemos porque ele é amigo de Chico Buarque, Toquinho e de todo mundo. Confira a entrevista exclusiva de Wagner Homem ao ONNE.
(Foto: Mirella Fonzar)

ONNE - Como você conheceu Chico Buarque?
Wagner Homem - O Chico pessoalmente eu vi pela primeira vez, fora em shows, num lançamento de um livro dele chamado "A Bordo do Rui Barbosa". Um livrinho de poemas ilustrado pelo Vallandro Keating, amigo de faculdade dele. Acho que foi a única vez que o Chico fez uma noite de autógrafos. Foi no café Piu-piu, no Bexiga, na capital paulista, em 1982. Eu me lembro que aquilo era um horror de gente. Imagine com Chico lá dentro? Bom, eu sei que eu fui. Mas, a única coisa que vi do Chico foi a "mãozona" dele. Uma mão imensa. Ai, em 1989 quando a Companhia das Letras foi fazer o primeiro songbook do Chico, chamado Chico Buarque - Letra e Música, eu fui o responsável por organizar as letras. Eu descobri que tinha muito material, até coisas que já eram raras. Depois quando fui indicado para fazer esse livro, eu o conheci pessoalmente. O Chico é uma pessoa doce, não tem nada de tímido como dizem. Ele é reservado, é diferente.

ONNE - O Chico e alguns amigos te conhecem como Cachorrão. Qual a história do apelido?
WH - É um apelido de natação. Há muito tempo eu era nadador, muito medíocre pra te falar a verdade. E numa determinada prova eu estava em terceiro lugar e se eu chegasse numa posição melhor toda a equipe seria campeã. Um companheiro de equipe, o Pardão, hoje médico em São José do Rio Preto, corria na beira da piscina e falava: Vai cachorrão, vai! Assim ganhei a prova e a equipe foi campeã. O apelido pegou de uma maneira brutal. Ele era mestre de colocar apelido. Quando vim pra São Paulo, um amigo acabou divulgando e hoje todo mundo me conhece como Cachorrão. É um orgulho ter esse apelido, o Jair Rodrigues também é chamado de Cachorrão.

ONNE - Como você caiu na internet e começou a fazer o site do Chico?
WH - Sou de Catanduva, interior de São Paulo, sai de lá com 17 anos. Vim para São Paulo fazer teatro, mas não deu certo por que não tinha “bolso”. Os atores na época morriam de fome. Fiz faculdade de Administração de Empresas e fui conhecer direito a informática quando trabalhei como Analista de Sistemas num banco. Comecei a gostar da informática voltada ao usuário final. Bom, foi assim que cai na grande rede. É como cair na vida, né? Coitado, caiu na informática. (Risos). Enfim, 10 anos se passaram, quando já existia internet, eu propus ao Chico fazer o site dele. Ele topou, eu fiz, e de lá pra cá, eu administro esse site. É um trabalho meio incessante, você não para. Todo dia você descobre uma coisa nova. Embora o Chico não produza mais tanto, descubro muita coisa antiga, que não sabia.

ONNE - E hoje, você se considera um jornalista, um administrador ou um analista de sistemas?
WH - Você faz cada pergunta difícil... (risos). Hoje eu sou um escritor. Escrevi um livro, tenho propostas de continuar essa coleção, Histórias de Canções.

ONNE - Então podemos esperar o próximo História de Canções de quem? Maria Bethânia?
WH - Apesar de fazer o site da Maria Bethânia, a única pessoa com quem falei até o momento foi o Toquinho. Ainda não tem nada certo, mas já conversamos. Ele não se opôs. O Toquinho é um personagem legal, pois ao lado vem histórias de Vinicius também. Claro que Vinicius morreu há muito tempo e Toquinho tem uma carreira, continua produzindo, mas, eles tiveram 11 anos de sucesso e acumulam centenas de músicas e histórias. Algumas mentirosas, mas sendo boa, tá bom, não é? (risos).

ONNE - Como surgiu a idéia de lançar um livro sobre as histórias de canções?
WH - Na verdade, ao trabalhar com o site eu fui acumulando e desenvolvendo essa percepção que as pessoas tinham curiosidade e se interessavam por essas histórias. Além disso, eu mesmo ia descobrindo novas histórias e ficava admirado com elas. Ai um dia eu disse, “tá na hora de reunir esse material”. Falei com o Pascoal Soto, que é o editor da Leya. A Leya é o maior grupo editorial de língua portuguesa do mundo. E ao se instalar no Brasil pretende se tornar uma referência nas publicações de língua portuguesa. Ai, falei com o Pascoal, ele adorou a ideia, falei com o Chico, ele topou imediatamente, mas sempre com aquelas condições. “Tudo bem, só que eu não posso trabalhar.” Ai eu respondi, “algum trabalho você vai ter que ter”. Quando propus isso ao Chico, em agosto do ano passado, ele ainda estava escrevendo o Leite Derramado. Só em fevereiro mandei o livro pra ele. Li no jornal que ele havia terminado o livro e que estava em fase de revisão. Mandei, achei que ele iria demorar, mas semanas depois, ele leu, respondeu, fez algumas observações.

ONNE - Alguma coisa foi censurada?
WH - Absolutamente nada. Achei que ele fosse censurar algumas histórias, mas não.

ONNE - Qual a história mais curiosa para você?
WH - Eu gosto de uma em especial. Meu Caro Barão é uma música infantil feita pro filme Saltimbancos Trapalhões. No filme, os trapalhões são faxineiros do circo. O barão, o dono do circo, foge com o dinheiro, e os saltimbancos acham uma maquina de escrever, e resolvem escrever uma carta para ele. Então a música é meio onomatopéica, com o barulho da máquina de escrever. Os saltimbancos não sabiam usar nem a máquina, nem o português corretamente. Então o genial da música é quando o Chico revela que eles não sabem acentuar, nem achar o acento na máquina, e tira o acento de algumas palavras, em geral proparoxítonas para rimar com paroxítonas... “Onde quer que esteja / Meu caro Barão / São Brás o proteja / O santo dos ladrão.” E por aí vai. Genial. Vale a pena ouvir. Ai um dia o Chico me liga e fala, “ta com o livro ai na mão? Vai à página tal” e era a página do Meu Caro Barão. Ele perguntou, “quem colocou acento na música?” (risos) O revisor! Eu fico imaginando o revisor chegando em casa e falando pra mulher: “Aquele Chico Buarque deve ser um analfabeto”. (risos)

ONNE - Grande parte das histórias do livro se concentra na época da ditadura militar brasileira. Você acha que a censura acentuava a criatividade do Chico?
WH - Não. Censura não faz bem pra ninguém, nunca. O que ocorre é que as pessoas eram obrigadas a lutar contra o sistema de alguma maneira. Mas, em hipótese alguma ela estimula a criação. Ela estimula artifícios, para liberar a criação. Evidente que alguns se saíram muito bem. Mas a censura não tem nada a ver com criação. Jamais. A censura é ruim sempre.

ONNE - Você acha que teve alguma mudança na obra do Chico após a queda da ditadura?
WH - Eu acho que sim. Eu acho que ele se livrou, ou tenta se livrar até hoje, dessa marca de ser um paladino, um representante. Não, ele era um cara que trabalhava e queria trabalhar, quando pisaram no seu calo, ele começou a chiar. Mas, na verdade o Chico mesmo diz que a única música de protesto dele é Apesar de Você. As outras não são de protesto.

ONNE - “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.”, esse amanhã tão esperado por artistas como Chico Buarque chegou?
WH - Acho que sim, estamos próximos. Nos últimos anos, depois da redemocratização, goste ou não goste deste ou daquele presidente, o Brasil evoluiu. A gente entrou numa democracia de fato, tirando as palhaçadas é claro. Desse ponto de vista não há o que negar, a gente está num regime democrático. Felizmente, todo mundo produz, todo mundo protesta, todo mundo cresce. Não tenho dúvidas que melhoramos. Se é o ideal? Claro que não. Mas, acho que o Brasil melhorou muito. Ainda não é o outro dia completo, mas se não floresceu, está florescendo.

ONNE - Você acha que a democracia mudou o sentido de ideologia política do brasileiro?
WH - Eu acho que hoje as pessoas são menos politizadas ou são politizadas de uma outra maneira. Naquela época era muito fácil fazer política, você era assim ou era “assado”. Hoje esse binômio não existe mais. Quando você está num pluripartidarismo tem de tudo, tanto na política, como na música, no teatro... Então, acho que hoje você vive um mundo mais plural, mais cheio de alternativas, mais segmentado. A gente que ainda não descobriu como analisar essa politização.

ONNE - E você, na época de estudante participou de algum movimento?
WH - Agora a gente pode falar, né? (risos). Fui militante, fui líder estudantil, secundarista, mas nunca fui filiado a nenhum partido. Eu me lembro que no dia que decretaram o AI 5, 13 de dezembro de 1968, eu estava chegando a Salvador para um congresso de UBES (União Brasileira dos estudantes secundaristas), congresso que, evidentemente, não houve por causa do AI 5. Eu passei 3 dias escondido numa casa, que por sorte era de uma mulher da Polícia Civil. E eu morria de medo, mas ela avisou pra ficarmos tranquilos. Enfim, não fui preso. Mas tive amigos presos, amigos mortos... Tudo que um cidadão de 58 anos pode ter passado naquela época.

ONNE - O que você acha da música e da literatura de hoje? Existe um novo Chico Buarque ou Vinícius de Moraes?
WH - Primeiro, eu não sei se o mundo precisa de um novo Vinicius, um novo Chico. Lá atrás eles eram novidades. E o mundo precisa de novidades. Não sei se há lugar para um novo Vinicius ou Chico. Mas, certamente está rolando como sempre rolou. Gente boa, gente nova. Só não me pergunte quem, que eu não saberia te dizer. Uma coisa que me chamou muita atenção foi acompanhar a Gal, num show aberto em Jundiaí (SP). O show era só Bossa Nova. E eu ficava olhando pra platéia que misturava gente velha, gente nova, meia idade, e todo mundo cantava. Algo, que toca tão pouco em rádio, não sei é um milagre da música brasileira.

ONNE - Quais são suas referências musicais e literárias, além do Chico?
WH - Na literatura? Machado de Assis. Dos novos? João Ubaldo, Jorge Amado. Gosto muito de um cara pouco conhecido, Carmo Bernardes, um escritor brasileiro que escreve sobre o interior de Goiás. Era um defensor ardoroso da fauna e da flora brasileira, principalmente do cerrado.

ONNE - O que você achou da última produção cinematográfica baseada na obra Budapeste de Chico Buarque? Achou a adaptação fiel?
WH - Para mim é muito complicado falar de qualquer coisa do Chico. Eu sou suspeito. Mas gostei bastante. É claro que não podemos comparar o livro com o filme. Na verdade nunca. Nem com o Chico, nem com livro nenhum. São duas artes distintas, a literatura tem outra abordagem. É outra viagem. Na literatura você viaja sozinho, o cara que escreve é só um condutor. Mas, as imagens você cria. No cinema, você tem a mão do diretor para te guiar. Eu gostei de Budapeste, achei um filme bonito.

ONNE - E sobre Leite Derramado, será outra obra prima da literatura brasileira?
WH - Se não entrar é por que os caras são muito burros! (Risos) Pra mim já entrou. Olha, Leite Derramado eu li umas três vezes seguidas. Uma das vezes eu disse, “eu ainda vou pegar um erro nesse trem aqui”. Não peguei nada! Pelo contrário, descobria coisas maravilhosas, o uso das palavras, tudo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cameron Crowe


Cameron Crowe é um verdadeiro nativo californiano. Nasceu em Palm Springs em 1957 e cresceu em San Diego. Aos 15 anos começou sua carreira no jornalismo, escrevendo artigos para publicações como Creem, Rolling Stone, Playboy e The Los Angeles Times.

Com apenas 16 anos, passou a formar parte da equipe da revista Rolling Stone, onde esteve encarregado de escrever as biografias de artistas influentes como Bob Dylan, Eric Clapton, David Bowie e Neil Young.

Em 1979 Crowe escreveu uma novela, Fast Times at Ridgemont High, que se converteu em um sucesso de vendas, em 1981. Antes que o livro foi vendido, Crowe teve que escrever a adaptação do livro para levá-lo ao cinema, realizando assim sua estréia como roteirista. O filme de mesmo título foi dirigido por Amy Heckerling, e interpretado por Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forrest Whitaker, Nicolas Cage e Eric Stoltz.

Quase Famosos


Pra quem gosta de Rock`n`roll dos bons, os anos 70 e toda sua cultura, "Quase Famosos" é um prato cheio. Trilha sonora IMPECÁVEL, sem contar os atores que estão ótimos: Kate Hudson linda como sempre, McDormand está fabuloso e o jovem Patrick Fugit surpreende no filme. O filme, como o próprio Crowe disse ao receber seu Oscar, é uma declaração de amor à música e a família, e é realmente isso. Tratando-se da sua auto-biografia, "Quase Famosos", consegue retratar a história de Crowe no início de sua carreira na revista "Rolling Stone. Pra mim, o filme foi injustiçado pois merecia uma indicação ao Oscar de melhor filme. Ganhou por melhor roteiro original.

Trailer:


Sinopse:
Um fã ávido por rock`n`roll, de apenas 15 anos, consegue um trabalho na revista americana Rolling Stone, para acompanhar a banda Stillwater em sua primeira excursão pelos Estados Unidos. Porém, quanto mais ele vai se envolvendo com a banda, mais vai perdendo a objetividade de seu trabalho e logo estará fazendo parte do cenário rock dos anos 70.

Elenco:
Billy Crudup (Russell Hammond)
Frances McDormand (Elaine Miller)
Kate Hudson (Penny Lane)
Jason Lee (Jeff Bebe)
Patrick Fugit (William Miller)
Anna Paquin (Polexia)
Fairuza Balk (Sapphire)
Noah Taylor (Dick Roswell)
Philip Seymour Hoffman (Lester Bangs)
Eion Bailey (Jann Wenner)
Jay Baruchel (Vic Nunez)

Premiações:
- Ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, além de ter recebido outras 3 indicações: Melhor Atriz Coadjuvante (Frances McDormand e Kate Hudson) e Melhor Edição.
- Ganhou 2 Globos de Ouro: Melhor Filme - Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante (Kate Hudson), além de ter recebido outras 2 indicações: Melhor Atriz Coadjuvante (Frances McDormand) e Melhor Roteiro.

Curiosidades:
- O roteiro de Quase Famosos, escrito por Cameron Crowe, foi elaborado usando memórias do próprio Crowe quando escrevia para a Rolling Stone, aos 15 anos de idade, e acompanhou parte da turnê da banda Led Zeppelin.
- A banda fictícia Stillwater, que aparece em Quase Famosos, é na verdade uma mistura de três grupos que o diretor Cameron Crowe adorava: Led Zeppelin, Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd.
- Penny Lane, que no filme é interpretada por Kate Hudson, realmente existiu e foi uma das primeiras paixões de Cameron Crowe em sua juventude.
- A cena em que o guitarrista Russell Hammond, interpretado por Billy Crudup, após tomar LSD grita em cima de um telhado "Eu sou um deus dourado" foi protagonizada na verdade por Robert Plant, cantor do Led Zeppelin, no topo de um hotel de Los Angeles
-Nancy Wilson, música e mulher de Crowe, realiza as trilhas sonoras de todos seus filmes.

Uma das melhores cenas do filme: